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segunda-feira, 5 de abril de 2010

Surpresas artísticas pelas esquinas dos museus de NY

A menos de um mês atrás eu estava na reta final da minha peregrinação pelos pontos turísticos de Nova Iorque. Como boa estudante de artes visuais que sou, os museus e galerias mais conhecidos estavam todos no meu roteiro que, ingenuamente, teria uma semana para completar.

No sábado, dia 13 de março, eu finalmente consegui perceber o óbvio: não conseguiria conhecer nem metade daquilo que havia planejado - tinha apenas mais 3 dias na cidade e só tinha visto o pacote básico do turista de primeira viagem. Estátua da Liberdade, Empire State, Museu de História Natural... tudo aquilo que já havia visto em filmes e guias, nada de descobertas exclusivas em pequenas e deliciosas galerias para mim. Então, já que estava fadada a boa e velha farofada, resolvi passar a tarde no MoMA - ideia que, aparentemente, se tornou universal naquele dia chuvoso.


Estava eu, ensopada de água depois de todos meus guarda-chuvas terem sido aniquilados pelo vento nova-iorquino, cercada por japoneses com suas armas-fotográficas em punho e perdida entre tanta informação, quando finalmente consegui ler na parede as exposições que estavam acontecendo naquele momento: Tim Burton, alguma coisa sobre design, Monet's water lilies, desenhos modernos sobre mitologia, Willian Kentridge e... ela. "Marina Abramovic: The Artist is Present opens March 14."

Para minha tristeza, eu estava um dia adiantada. A exposição não havia sido aberta. Mas enquanto caminhava em direção ao átrio principal, fui percebendo uma movimentação, algumas luzes e muito burburinho e, óbvio, fui ver do que aquilo tudo se tratava. Então toda aquela decepção de não ter me programado direito, a raiva por não ter conferido o site do museu antes, tudo aquilo magicamente se transformou em outra coisa, numa alegria e num contentamento que imagino que somente os fãs mais fervorosos sentem quando estão na porta do hotel e seu ídolo vem e lhe dá um autógrafo. Eu estava ali, vendo Marina Abramovic performar.

Eu, Laurem Crossetti, mera estudante por volta do oitavo semestre de artes visuais, nascida no interior do fim do mundo, num país onde andamos de jangada e cipó, estava ali, em Nova Iorque, na capital do mundo, onde todos estão sempre acordados devido à imensa quantidade de cafeína no sangue, presenciando a presença de uma pessoa, um ser-performante iluminado, que dava o ar de sua simples graça e engrandecia aquele já enorme lugar, sentada numa cadeira, em frente a uma mesa, em silêncio, muda, calada, numa atitude imóvel e tão, mas tão poderosa...

Exageros à parte, eu estava realmente emocionada com aquilo. Nunca fui estudiosa de performance, mas nomes como Joseph Beuys, Allan Kaprow, Yves Klein e Flávio de Carvalho sempre foram bem quistos na minha lista de artistas-do-coração. Abramovic também. Seu trabalho sempre me causou um misto de admiração e inveja, pois achava aquilo tudo relativamente simples mas muito incrível. Um espaço expositivo com um corredor estreito e dois corpos nus, parados um de frente para o outro, obrigando os visitantes a se espremerem entre eles para conseguirem passar: como não pensei nisso antes? Quanta profundidade em tamanha imobilidade.

Estas são duas de muitas das palavras que consigo pensar para descrever o trabalho de Abramovic. Ritual, ego, morte, limite, dor, corpo, ar, sangue, provocação, consciência, espaço, energia, etc etc etc. Todas suas performances conseguem nos tocar com essas e outras idéias, nos tirando do equilíbrio calmo e tedioso da nossa querida zona de conforto. Somos questionados à partir de seus gestos - ou às vezes da falta dele - e nos colocamos a pensar nos comos e porquês da vida.

E assim eu fiquei, por cerca de 40 minutos, sentada e pensando no sentido da vida, vendo a sua presença, a calmaria em torno da tempestade que essa mulher consegue ser, simplesmente quieta e sentada no meio de um dos maiores museus do mundo, remexendo no interior de todos aqueles que a vêem - dos estudantes de artes visuais aos turistas japoneses, ninguém sai ileso à Marina Abramovic.



Para ler mais sobre a artista, o bom e velho wikipedia.
Mais sobre a exposição no site do MoMA.

No próximo capítulo da série de boas surpresas artísticas em NY: Anish Kapoor no Guggenheim.

Um comentário:

Luciana RRR disse...

Nossa!
Fantástico!
Também não sou do "mundo" da performance, inclusive me sinto constrangida, vergonha alheia, essas coisas... Mas a Marina Abramovic tem algo que faz despertar um estalo, a tal epifania. E olha que nem tive a sorte de vê-la ao vivo!
Mandou bem Laurem!
=D