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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Entrevista - Pedro Ivo Verçosa



Nome: Pedro Ivo Verçosa
Idade: 23

Em Brasília, devemos ficar atentos a obra de: Jean Matos e Virgílio Neto
Café: Ristretto, no. 74 do Café A Cappella.



DNB- A pintura vem tendo bastante destaque na produção local nos últimos anos; uma tendência que parece se confirmar, por exemplo, no Salão Universitário, Prêmio Espaço Piloto de Arte Contemporânea. Você percebe essa tendência? Como seu trabalho dialoga com o de outros pintores locais?

Pedro Ivo- Eu acho que em grande parte isso tem a ver com o Elder Rocha (pintor e professor de pintura do Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília), seja na forma como ele dá aula, deixando tudo sempre muito aberto, incentivando bastante quem quer começar, seja na opção pelo figurativo. Eu, na verdade, comecei a pintar quando conheci o Moisés [Crivelaro] e o Taigo [Meireles] que já tinham um pouco a influência do Elder, mas também muita influência do [Sergio] Rizo (artista e professor de Desenho da UnB) e também do [Nelson] Maravalhas (pintor e professor que ministra disciplinas práticas e teóricas na UnB). Eu estava saindo do Desenho Industrial e entrando nas artes plásticas; queria conhecer alguma coisa, e estava próximo ao Moisés que me perguntou “Você quer pintar?”, e eu respondi “quero, quero pintar” e ele me orientou “então: compra essas tintas; o quê que você quer fazer?”... Pinto hoje por conta dessa abertura que ele teve. Estava montando o ateliê na 12 norte [ateliê que compartilhou com Fábio Baroli na 212 norte]. Acho que foi mais um acidente do que qualquer outra coisa. O Elder, por exemplo, sempre foi um artista que tive como referência, até porque a Karina (minha madrasta) fez o curso na UnB e tinha o Elder como um professor muito querido. Então eu já o conhecia antes de entrar na faculdade. E eu logo me encantei com ele como professor, como pessoa e como artista. Foram esses pequenos acidentes... foi por ter uma convivência com a pintura. E foi bom, porque eu estava me distanciando do desenho industrial, estava de saco cheio de vetores, tipografia, etc., não queria ver mais nada disso...

DNB- Por quanto tempo você cursou Desenho Industrial?

Pedro Ivo- De 2004 a 2006, por quatro semestres. E, nesse tempo, eu trabalhei com os meninos, com o Virgílio [Neto], a gente fez camisetas, chegou a fazer ilustração e diagramação. Foi quando eu descobri que não era o que eu queria fazer.


DNB- Algumas de suas pinturas parecem possuir uma qualidade cinematográfica; Por um lado, as situações parecem por vezes compor stills ou fragmentos de uma narrativa oculta, por outro, as composições aludem a idéia de montagem com a sobreposição de cenas ou mesmo na disposição das telas no espaço expográfico. Essa é uma referência recorrente em sua pesquisa?

Pedro Ivo- Acho que a questão do still tem muito a ver sim, porque eu comecei fotografando com o celular; eu queria captar a cena cotidiana, juntando fragmentos. Depois de um tempo eu abandonei, [risos] é trabalhoso demais. Tenho um carro agora também, passei a ter menos esse tipo de acesso.
Quanto à montagem, acho que é uma experiência nova que eu estou tendo. Comecei a explorá-la na última série que fiz, do ônibus, que é bem fragmentada. Eu estou sempre experimentando. Estou a três anos (desde 2006) produzindo pinturas e, às vezes, eu sinto necessidade de algumas fugas. Agora estou experimentando o adesivo como suporte, fazendo desenhos sobre folhas de madeira... Quando eu volto para a pintura, volto com outro tipo de concepção. Por exemplo: minha pintura é prioritariamente monocromática. Tive que ter experiência com cores para poder voltar ao monocromático. Passei seis meses sem pintar, só dedicado as experiências com adesivo para voltar à pintura. Eu não acredito que eu seja um pintor. Tenho um tema que me interessa e, por mais que eu goste de fazer pinturas, tem outros caminhos que eu tento seguir.


DNB: Sobre essa questão: como muitos outros pintores figurativos da atualidade, você se utiliza de imagens fotográficas como parte do processo de elaboração de suas obras. Como essa questão surgiu no seu trabalho e como ela esta integrada a sua poética?


Pedro Ivo- Comecei fotografando, era apaixonado mais pela fotografia, eu estava ainda no meio do design. Pensava: “O que eu vou pintar?” Você pinta algo que você gosta, né. Você pinta; depois você vai descobrindo o que te levou a pintar aquilo. Mas, primeiro, você pinta. Eu acho que eu fui descobrindo... e a fotografia faz parte desse processo. O que posso dizer? Eu trapaceio, eu projeto (a imagem)... Eu sei que muita gente critica isso, mas é uma ferramenta. A fotografia me facilita, é um facilitador absurdo. Eu não acredito na fotografia como um fim, em hipótese alguma, acredito na fotografia como meio. A pintura me parece mais final, mais duradoura. A fotografia é um processo. Minha relação com a fotografia é sempre da ordem do inacabado.




Acima, fotos da série Fragmentos Urbanos


DNB - Como uma espécie de rascunho da imagem que você almeja?

Pedro Ivo- É, um rascunho. Ainda mais da forma como eu a uso, da forma como eu aproveito a fotografia.
Quando eu comecei, fotografava de celular e mal via o que ou quem eu estava fotografando. Eu me sentia meio estúpido até... Mas eu tinha uma ferramenta que, eu acreditava na época, me dava certa imparcialidade; uma imagem mais fiel, que me permitia produzir uma interpretação sobre o observado. Hoje em dia eu não digo mais isso, mas na época eu falava que era mais real...

DNB- No caso, a fotografia de celular produz uma perda de acuidade, uma imagem um tanto indefinida, tosca... Isso lhe interessava?

Pedro Ivo- Sim, porque eu estava fotografando ali o deslocamento, o movimento, o trânsito. Então, achei na fotografia de celulares a captura desse vulto que passa. Você passa por esse meio urbano e não grava a cara de uma pessoa específica; ela existe ali, mas não existe.

DNB- Isso tem uma relação interessante com os recortes vinílicos, como uma espécie de fantasmagoria urbana...

Pedro Ivo – Tem sim. Na verdade, esse trabalho nasceu de uma provocação da professora Aline (Aline Essenburg professora de desenho da Universidade de Brasília); ela me disse “Gostei muito do seu trabalho, é interessante, mas essa é uma disciplina de desenho e você precisa desenhar de algum modo”. Eu não queria abandonar o estudo que eu já havia começado em fotografia e que depois migrou para a pintura. O vinil foi uma forma que eu encontrei de obter essa imagem que aparece, que some, de uma forma mais linear. Isso abriu uma variedade absurda de campos de pesquisa. Se eu não estivesse na UnB, nunca teria explorado isso...
É engraçado, é sempre um experimento: em uma parede aparece mais, em outra aparece menos. O lance de aplicar, você não sabe se alguém vai chegar e vai reclamar, se vai ser tranquilo. Quando você tá aplicando, pára, olha, observa, mas você não sabe a vida que aquilo vai ter, se as pessoas vão ver. Na verdade esse trabalho ainda está muito inicial. Eu acho que pra galeria tem uma aplicação, pra aplicar em suporte rígido tem outra e pra aplicar na rua eu não descobri, mas eu vou descobrir ainda. Eu acho que eu ainda não amadureci o trabalho o tanto que ele deveria amadurecer.

DNB- Mas a proposta surgiu originalmente de aplicação em espaços públicos ou em suporte rígido?

Pedro Ivo- Inicialmente eu queria só o efeito do vinil. Nas primeiras experiências recortei tudo em contact e apliquei sobre a parede. Depois, no Iate [IX Prêmio do Iate Clube de Brasília], eu experimentei um suporte rígido e vi que podia ser explorado, mas eu penso muito em começar a mesclar, alguns elementos da pintura e do desenho. Ainda está muito no inicio, mas acho que dá pra mesclar e chegar a um resultado interessante.


DNB: 2009 foi um ano bastante produtivo para você. Você recebeu uma premiação no I Salão Universitário e participou de mostras como Novas Referências, IX Prêmio Iate Clube de Brasília e II Bienal de Arte de Brasília, dentre outras. Como você tem percebido a receptividade de seu trabalho em Brasília?


Pedro Ivo- Não acredito, hoje, em mercado de arte em Brasília, não acredito no circuito. Não vejo gente preparada, estamos na mão de muitas pessoas difíceis, muita gente picareta. Falta formação, falta profissionalismo. Muitas vezes os espaços deixam tudo a cargo do artista, ele tem que fazer a curadoria, escrever sobre seu trabalho, montá-lo e arcar com os gastos. Isso prejudica o surgimento de novos profissionais (existem muitas pessoas produzindo obras muito promissoras na UnB, por exemplo). Não me entendam mal, existem espaços interessantes, como a Objeto Encontrado, que é mais alternativa, ou a Renome Galeria, que ainda não conheci, mas parece que está com uma proposta interessante. Não existe mercado para quem está começando. Eu tenho um privilégio absurdo, que é meu pai ser dono de loja (de móveis e decoração de interiores) e consigo uma boa exposição por lá; é onde sou mais notado, mais visto. Agora, depender de exposições na CAL (Casa da Cultura da América Latina, espaço expositivo da Universidade de Brasília no Setor Comercial Sul)? Qual a visitação da CAL? Qual a visitação da Bienal (2ª Bienal de Arte de Brasília, organizada pela UPIS)? E quem é esse público? Agora está entrando uma geração de artistas, nascidos e criados em Brasília.
Temos gente, mas não tem estrutura aqui. Falta disposição.


DNB- Fala-se de uma nova geração de artistas, mas será que não existe uma espécie de vazio em outras esferas da cadeia produtiva (produção, curadoria, divulgação)?

Pedro Ivo - Com certeza, inclusive o projeto de vocês de montar um blog, pra poder fazer uma divulgação dos trabalhos. Sabe, é a gente falando da gente. Temos que falar, porque parece que ninguém está de olho! Escuto muitas pessoas, de Belo Horizonte, Goiânia, São Paulo, Rio, que diz que Brasília é muito parado, falta iniciativa e não há retorno... mas há. Não adianta escorar nesse discurso e não fazer. Nossa produção é muito boa.

DNB- Como foi a experiência de expor em Uberlândia e Goiânia? Você sente uma receptividade diferente?

Pedro Ivo- Quando você é de fora o pessoal logo pensa “deve ter alguma razão para estar vindo” e procuram entender um pouco mais, procura estudar melhor o que está sendo apresentado. Aqui, quem visita somos nós mesmos, as pessoas já sabem o que esperar. Tenho visões e retornos completamente diferentes do que tenho aqui. Mas tanto em Goiânia como Uberlândia, as galerias eram da faculdade, então, querendo ou não, ainda estamos dentro da academia, estamos próximos. Aqui eu também tenho tido retornos positivos de públicos diferentes; ás vezes de gente não tão instruída, a própria Bienal [de arte de Brasília] tem um público completamente diferente. Acho que não é tanto onde, mas para quem você está mostrando.


Para mais imagens da obra de Pedro Ivo, dêem uma olhada em Artistas de Brasília e Cercanias.

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