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sábado, 1 de maio de 2010

Apagando as velinhas

Mês passado foi marcado pelas comemorações dos 50 anos da capital modernista, sendo assim não poderiam faltar exposições, seminários e eventos das mais diversas naturezas. A CAIXA Cultural apresenta duas exposições que refletem sobre questões brasilienses utilizando a fotografia como suporte: O Passageiro da Esperança -retratos de seu tempo com fotografias de Mário Moreira Fontenelle e Foto na Hora com fotografias de Joaquim Paiva.

Brasília sempre foi notícia e documentou sua história, desde antes de sua criação e inauguração. Na exposição O Passageiro da Esperança a cenografia de concreto armado e reboco por fazer ambientaliza o espectador. As colunas "flutuantes" do Palácio do Planalto se encontram dentro do espaço expositivo, criando um tipo de direcionamento do olhar em perpesctiva num dos corredores. Sente-se uma suspensão do tempo. Essa sensação fica mais ressaltada pelas fotografias preto e branco e pelo fato de podermos ver a estrutura primitiva de Brasília nestas fotos. Fontenelle não era fotógrafo profissional mas fez da sua fotografia uma profissão. Conheceu o presidente Juscelino Kubitschek porque era mecânico do avião presidencial, e assim como muitos candangos, era nordestino. JK o presenteou com uma máquina fotográfica Laica após ver os álbuns de trabalho amador de Fontenelle e o encarregou de estar em "Serviço de Relações Públicas do Presidente da República Dr. Juscelino Kubitschek" como está gravado no metal de sua Laica exposta numa das vitrines. O olhar do fotógrafo nos chama atenção justamente pela sensiblidade de sua percepção na captura de momentos importantes do que viria a ser a cidade que seria a nova capital. Estruturas, vergalhões, espaços descampados com esqueletos de concreto gigantescos surgindo, a inexistência do Lago Paranoá entre a Ermida Dom Bosco e o Palácio da Alvorada, pessoas, muitas pessoas, operários, autoridades, crianças, intelectuais, líderes, profissionais da construção civil, pioneiros... uma epopéia acontecia.


No decorrer da exposição os núcleos Estaca Zero, Construção, Inauguração de Brasília, Cidade Livre, Anônimos (ou Candangos), Personalidades e Fotomontagens, além de duas áreas interativas, não estão em ordem cronológica. O espectador faz o trajeto e descobre os detalhes e nuances de cada núcleo que se complementam a cada descoberta. Em uma parte mais separada do restante se encontram dois nichos específicos com dados biográficos e objetos de Fontenelle; a máquina de trabalho, uma mala desgastada, retratos da figura do fotógrafo em seu apogeu e decadência.

Se a carga das fotografias de Fontenelle eram do que iria ser, as fotografias de Joaquim Paiva são o que Brasília se tornou depois de todo o esforço de mais de cem mil pessoas para construí-la. Os candangos que ficaram, a vida cotidiana das pessoas que vieram para habitar a cidade, a humanização do concreto armado.

A maioria das fotografias datam dos anos 70 e 80, época em que Joaquim Paiva veio como diplomata para trabalhar em Brasília. Devido à sua profissão, o diplomata-fotógrafo viajava constantemente e ficava longos períodos afastado da cidade; assim, sendo um morador-visitante via a cidade crescendo e mudando. Acompanhou essa mudança e crescimento com as lentes fotográficas, procurando ângulos inusitados, instigantes e provocativos para retratar a imensidão do céu, o vazio, a arquitetura, a terra vermelha que brota em todos os lugares, o cerrado, locais de convívio social, seus habitantes e passantes. O destaque da exposição fica por conta das fotografias da Cidade Livre, atual Núcleo Bandeirante. Impressiona pelas cores, o tratamento da geografia urbana pelos moradores e as construções que não existem mais. O enquadramento de Joaquim Paiva trouxe para esta exposição a memória visual de Brasília, e assim como era para Fontenelle, a fotografia é arte-documento.


CAIXA Cultural Brasília: SBS quadra 04, lote 3/4; telefone (61) 3206-9448/9450

O Passageiro da Esperança -retratos de seu tempo na Galeria Principal até 23 de maio de 2010

Foto na Hora na Galeria Vitrine até 30 de maio de 2010

Um comentário:

luciana paiva disse...

ótimo relato, lu!
essa foto do cruzamento dos eixos é maravilhosa.